terça-feira, 22 de setembro de 2015

Leia mais

Para saber mais sobre histórias de tradição oral, formas simples, literatura infantil e as narrativas em diversos ambientes:

http://www.bocc.ubi.pt/pag/marcolla-rosangela-historias-tradicao-oral.pdf

http://www.bocc.ubi.pt/pag/marcolla-rosangela-monteiro-lobato-contador-de-historias.pdf

https://books.google.com.br/books?id=-U0hkwczKWkC&pg=PA137&lpg=PA137&dq=rosangela+mar%C3%A7olla&source=bl&ots=BgwcMLb1IK&sig=bZv3nIpTluJrRApRl5HGIZrYnok&hl=pt-BR&sa=X&ved=0CEMQ6AEwBzgKahUKEwi4s73a5YvIAhXCFJAKHTuVBOU#v=onepage&q=rosangela%20mar%C3%A7olla&f=false

https://oatd.org/oatd/record?record=oai%5C%3Aibict.metodista.br%5C%3A186

http://www.univerciencia.org/index.php/browse/b/58

http://www.univerciencia.org/index.php/browse/b/58







sábado, 19 de setembro de 2015

Histórias na escola

As formas simples definem as estruturas mentais que possibilitam elaborar narrativas de ordem pessoal. O entendimento da essência de cada estrutura molda os textos e explica a necessidade de contar experiências, fatos engraçados que marcam as vidas, as aventuras e desventuras, os medos, entre outros sentimentos.















http://www.brasilescola.com/upload/e/Caixa%20de%20Pandora%20-%20BRASIL%20ESCOLA.jpg

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Formas simples e histórias de tradição oral



As formas simples estudadas por André Jolles, como referência entre os homens, na questão do conhecimento e da comunicação, fazem parte de um resgate das raízes dos povos, que guardam como pedra bruta o que tem de valioso em sua capacidade de expressão. E, por falar em pedra, essa foi a primeira da casa que o autor se propôs a construir no terreno da literatura, mudando seu significado.

Esse modo de expressão é o que faz separar as formas simples das formas cultas da narratividade. Por formas simples pode-se entender as criações coletivas de autoria desconhecida nascidas da natureza humana, assim como a poesia natural definida por Jacob Grimm, “que brota incessantemente de um impulso natural e é captado por uma faculdade inata”.

As formas simples, compreendidas como manifestações naturais do homem, dependem das disposições mentais sustentadas pela linguagem. Já as formas cultas são resultados de criações artísticas individuais, como o romance, a novela, com personagens, ambiente, espaço e tempo determinados por um autor identificado, responsável pela obra.


As formas cultas diferem das simples, por uma questão de origem, as primeiras são artificiais, criadas, ao passo que as segundas guardam para si a naturalidade. Sendo assim, as formas cultas podem ser derivadas das simples, quando um autor escreve uma obra literária com essência nas histórias de tradição oral, apenas revestindo-as com outros adornos.


Essa mudança do estado torna as obras literárias, por serem autorais, em forma culta, anulando ou neutralizando a presença da forma simples, dentro das suas definições. Lenda, conto, saga, tudo se resume em uma coisa só. As pessoas não distinguem as formas, apenas a estrutura da história, com começo, meio e fim.


André Jolles lança-se para entender as questões do mundo, buscando significados humanos e suas relações com as histórias de tradição oral.

Ditado ou provérbio




Conhecido também por provérbio, o ditado faz parte da vida do homem, com o objetivo de ensinamento, através de aviso, recomendação, prevenção, do tipo “quem avisa, amigo é”, ou em forma de frases que só podem ser compreendidas dentro de um grupo, ou de ambientes de trabalho e estudo. Com seus significados, essa forma simples transcende época e local e vagueia pelo mundo. Nasce de um autor individual, pois toda criação tem um criador e se espalha pelo universo, com retoques e remendos que as pessoas vão atribuindo para as locuções proverbiais.


Fato interessante com essa forma, na opinião de Jolles, é “que o provérbio só se torna locução proverbial depois de ter recebido, do povo, essa forma dotada de universalidade e assim por diante” . Tem que ter significado contundente para ser repetido e, uma vez que isso aconteça, torna-se uma corrente invisível e os mesmos ditados são repetidos há séculos e séculos, mesmo não tendo o ferreiro, aquele do conhecido provérbio “casa de ferreiro, espeto de pau”, como profissional em alta no mercado de trabalho atual.

Saga




A história de família é determinante para que a pessoa tenha a sua própria história, pois recebe heranças não só concretas como abstratas e as transmite para a geração seguinte, com os mesmos princípios, conceitos e sentidos culturais. Isso para não falar das questões econômicas, de riqueza ou pobreza, que recebe como prêmio logo ao respirar o ar do mundo externo.

Afirma Jolles que “tal universo mantém idêntico a si mesmo no tumulto de suas variações – universo da glória ancestral e da maldição paterna, do patrimônio e das rixas entre famílias, das mulheres raptadas e do adultério, do sangue derramado na vingança e misturado no incesto, da fidelidade e do ódio familiares, universo do pai e do filho, do irmão e da irmã, universo da hereditariedade”. 

Com isso, o autor remete o leitor à ideia de destino, pois “nesse universo, o Bem e o Mal, a coragem e a covardia, não são qualidades pessoais, a propriedade já não é posse do indivíduo: a fonte de todo o significado e de todo o valor é a família e o destino do homem recai sempre no clã ”. 

O homem é visto como herdeiro de ações de seus antepassados, cujas histórias são narradas com o nome de saga, dando continuidade ao que recebe de sua família, responsabilizando-se pelos feitos passados. Os personagens da saga que se sobressaem são justamente aqueles que lutam para desfazer o “nó” do destino, alterando o rumo das pessoas da família de gerações futuras. 

A tradicionalidade da saga pode, segundo Jolles, “continuar existindo, em literatura, nas narrativas campesinas”, pois as pessoas que vivem no campo ainda conservam por um tempo maior seus costumes, através das histórias de famílias, e ainda segundo o autor, “a cristalização poética é menor, a linguagem não pode intervir com a mesma força, o colorido é pálido e falta a grandeza do gesto”. 

A essência da saga continua perene como fonte de histórias de vidas pessoais, autobiografias, relatos onde se podem encontrar dados não vividos pelo autor do texto, mas contados por membros da família, de gerações anteriores, fazendo com que muitos sentimentos permeiem a vida dos descendentes de uma família, sem que se tenham sido experimentados.













Chiste




Contar histórias sobre as características de cada povo especificamente, com certo ar de graça, de deboche é, sem dúvida, uma forma rudimentar de pensamento que permanece até os dias de hoje, pois segundo Jolles, “não existe época nem lugar, provavelmente, onde o chiste (Witz) não se encontre na existência e na consciência, na vida e na literatura”. 

O fato de se relatar um fato engraçado, mostrando as diferenças dos povos, de acordo com suas culturas próprias leva o receptor a se divertir com a situação, principalmente quando se fala em palavras de duplo sentido, incompreensíveis por dialetos distintos. 

A força do opressor sobre o oprimido também resulta numa disparidade que causa ironias, risos, justamente por desafiar o mais forte e encontrar defeitos que o desprestigiam, apesar de mostrar posição de superioridade. “O que nos interessa aqui, porém, não é a diferença, mas a disposição mental em sua totalidade. Começaremos assim por dizer que o Chiste, onde quer que se encontre, é a forma que desata coisas, que desfaz nós”, afirma Jolles, definindo essa forma, que acabou por dar origem à sátira e à ironia.

A sátira“é uma zombaria dirigida ao objeto que se repreende ou se reprova e que nos é estranho (...) e a ironia troça do que repreende, mas sem opor-se-lhe, manifestando antes simpatia, compreensão e espírito de participação...

Na sátira, mantemos distância do objeto, ridicularizamos aquilo que não temos em comum com a pessoa satirizada, enquanto que a ironia é conhecida por quem a elabora, amenizando e solidarizando-se com o objeto ironizado. Nas palavras de Jolles, “a sátira destrói, a ironia ensina”.

Fábula


           

A fábula também não está no rol das formas simples, pois está mais para criação individual, porque traz as falas dos animais, como se fossem humanos, não correspondendo à realidade. É considerada história de tradição oral pelos mesmos motivos da lenda, por não ter autor, pela sua transmissão oral e contínua através dos tempos, alterando o comportamento da vida das pessoas em sociedade.


A palavra fábula, em sua etimologia, tem origem latina, fabulare, ou seja, falar, e significa conversa, narração (Sueli Passerini). Diante dessa concepção, parece ter origem muito remota, que coincide com o surgimento da linguagem, evoluindo com a função histórica da palavra. Seu processo de criação e recriação foi espontâneo e serviu como forma de comunicação entre as pessoas.


A estrutura da fábula, curta e direta, assemelha-se ao provérbio, sem sua parte narrativa e à anedota, como narrativa sem moral da história. Trata-se, portanto, de narrativa de natureza simbólica de uma situação vivida por animais, representando uma situação humana, com o objetivo de transmitir determinada conduta ou moralidade.


Os animais assumem uma situação humana com finalidades exemplares, pois representam símbolos. O leão representa a força; a raposa, a astúcia; o lobo, o despotismo; o cordeiro, a ingenuidade; a formiga, o trabalho, etc.


Bárbara Vasconcelos de Carvalho afirma que “a origem da fábula se perde no tempo, tornando difícil fixá-la. Atribui-se que a fábula tenha sido documentada desde Buda, e consta que muitas fábulas atribuídas a Esopo já haviam sido divulgadas no Egito, quase 1.000 anos antes de sua época”.


Trazida do Oriente para a Grécia Antiga, foi reinventada pelo grego Esopo, considerado o pai da fábula. Viveu, provavelmente, entre os séculos VII e VI a.C. Era, supostamente, um escravo, que depois de ter sido libertado, viajou para o Oriente, adaptando todas as histórias, com claro objetivo moral, para a sabedoria grega, dando à fábula um gênero peculiar. Contava suas fábulas, adaptando o comportamento dos animais às suas observações. Depois de liberto, viajou para a Ilha de Delfos e, em virtude do conteúdo de suas histórias, os habitantes da ilha, enraivecidos, atiraram-no do alto de um rochedo, levando-o à morte.


Tempos depois, a fábula foi aperfeiçoada pelo escravo Fedro, como poesia, definindo sua forma literária. Nessa época, torna-se ingênua e satírica. Esse gênero, pelas mãos de Fedro, incorporou-se à literatura latina.


A forma definitiva da fábula dentro das espécies literárias foi dada por Jean de La Fontaine (século XVII, 1621-1692), denominado o mestre dos fabulistas modernos. Nasceu em Château Tierry, França. É considerado o maior escritor do gênero, pois difundiu-as através de seus livros feitos para adultos, mas desviados para a leitura das crianças, por conter princípios de moralidade. Seus textos trazem, em uma linguagem metafórica, as misérias, as injustiças de sua época.


A fábula apresenta texto curto e simples. Faz parte da narrativa o princípio moral, o ensinamento, através do humor que acaba por divertir e entreter o ouvinte; apresenta um estilo simples e uma linguagem direta, com diálogos em prosa ou em verso, cujo objetivo é a expressão crítica de conduta do homem. Pode ser dividida em duas partes, segundo La Fontaine, “o corpo é a fábula; a alma, a moral”. É uma das formas simbólicas surgidas espontaneamente, decorrente do desenvolvimento histórico da idéia de arte, com o intuito de elevar a condição de vida humana.



Lenda


         

Em tempos remotos, o homem não sabia escrever, mas sabia contar histórias. Conservava as suas memórias na tradição oral e quando elas falhavam, entrava a imaginação criando, assim, as lendas. Para Câmara Cascudo, “lenda é um episódio heróico ou sentimental com o elemento maravilhoso ou sobre-humano, transmitido e conservado na tradição oral popular, localizável no espaço e no tempo.”


A palavra lenda vem do latim legere que significa coisas que devem ser lidas ou apenas ler. Sob o ponto de vista da literatura, a lenda apresenta-se como narrativa, em verso ou prosa, geralmente breve, com conteúdo retirado da tradição. É um relato de acontecimentos, em um certo espaço geográfico e em determinado período de tempo, onde o maravilhoso e o imaginário superam o histórico e o verdadeiro. Faz parte da história do homem e sua origem traduz a necessidade do homem em explicar os acontecimentos do mundo.


Para Lúcia Pimentel Góes, “lenda é uma narrativa localizada, individualizada, objeto de fé”. Por apresentar caráter regional, como objeto de resgate folclórico, é conhecida pela sua localização de origem.


As lendas brasileiras, de origem africana, européia e indígena, são diversificadas e mostram acontecimentos de várias partes do país, com personagens como “Saci-Pererê”, “Curupira”, “Mula-Sem-Cabeça”, encontrados na Lenda da mandioca, História de Chico-Rei, Negrinho do Pastoreio.


De maneira geral, tiveram sua origem no anônimo coletivo, onde os homens se reuniam em grupos para contar as aventuras de um mundo incompreendido e suas lutas para dominá-lo. Na opinião de Jesualdo Sosa , “esta é a primeira preocupação com valor científico a surgir no homem, seu primeiro sentimento filosófico”.


Essas vivências foram transmitidas por gerações, sob a forma de lendas, contadas de maneira simples e convincente. Fazem parte da vida da criança, em fase escolar, estudadas nas comemorações do folclore, principalmente, por retratar a imagem do país, através de seus símbolos e personagens.


A lenda não foi classificada como uma forma simples por André Jolles, pois não faz parte do pensamento livre do homem. Está ligada a um lugar determinado, em um tempo distinto e isso afasta a idéia de universalidade.


Apesar de estudada como uma história de tradição oral, não faz parte do elenco das narrativas conhecidas em todo o mundo, pois cada povo tem a sua explicação para suas dúvidas e os heróis que a sua imaginação cria.





Conto popular: maravilhoso


         

Os contos maravilhosos se originaram no Oriente. São muito antigos e eram apreciados pelos adultos. Acabaram por ser incorporados à literatura infantil após as adaptações feitas para as crianças, como conseqüência da “gradativa intelectualização da Cultura”, segundo Nelly Novaes Coelho.


Contém no termo “maravilhoso” a idéia de situações que ocorrem fora da nossa compreensão de espaço e de tempo, cujos fenômenos não obedecem às leis naturais do planeta; possuem características mágicas, sem a presença de fadas, dando ênfase aos aspectos materiais, sensórios e sociais do homem.


Os temas referem-se sempre à satisfação dos desejos do corpo, o enriquecimento e a conquista do poder. Exemplos: Aladim e a Lâmpada Maravilhosa, A menina dos fósforos, O Gato de Botas, O Soldadinho de Chumbo, A Pequena Sereia, Alice no País das Maravilhas, Chapeuzinho Vermelho, etc.


O grande acervo de contos maravilhosos está reunido na coletânea As Mil e Uma Noites, de origem árabe, cuja forma original surge no século XV, divulgada no mundo europeu a partir do século XVIII.


Tanto os contos de fadas como os contos maravilhosos são importantes para a criança por estarem relacionados com a fantasia. Através das mensagens transmitidas pelas histórias, ela adquire amadurecimento para entender o mundo.


Conto popular: fadas




Na concepção de André Jolles, os contos maravilhosos, de encantamento, de fadas ou fábulas, são simplesmente contos populares, pois eles se referem sempre à moral ingênua do ser humano. É dessa forma que se pretende expor as idéias neste trabalho a partir do termo “conto popular”, pois engloba todas as expressões do homem, mas, para fins de esclarecimento em relação à literatura infantil, vale mostrar as características quanto às suas especificidades. 


Os contos de fadas surgiram na imaginação dos homens e é muito difícil precisar quando e onde ocorreu seu nascimento, apenas que deve ter acontecido há muitos séculos antes da era cristã. Eles continuam sendo transmitidos oralmente por gerações.

Em sentido etimológico, a palavra fada vem de fatum, que significa fado, destino do homem. As fadas são de origem pagã e se utilizam de objetos encantados, por exemplo, a varinha de condão para premiar os escolhidos, realizando os seus desejos. 


Há registros de que a história de Cinderela já tenha sido contada na China, durante o século IX d.C. Até na China essa história teve a sua versão, Yen-Shen, com mais de mil anos, mostrando a valorização dos pés pequenos pelos chineses que os têm como significado da virtude feminina. 


Os contos de fadas atualizam ou reinterpretam, em suas múltiplas questões universais, conflitos de poder e formação de valores, alternando realidade e fantasia. Por tratarem de conteúdos da sabedoria popular, essenciais à condição humana, é que os contos de fadas ganham importância no cenário literário. Nesses contos encontramos temas como o amor, o medo, as agruras de ser criança, as carências afetivas e materiais, as descobertas, as perdas, as buscas, a solidão, a aventura, o encontro e o final feliz, conseguido por intermédio da atuação dos elementos mágicos.


As fadas tornaram-se popularmente conhecidas como seres fantásticos ou imaginários, dotados de grande beleza, apresentados em forma de mulher. São caracterizadas pelas virtudes e pelos poderes sobrenaturais e seu papel é modificar a vida das pessoas, ajudando-as em situações de extrema urgência, quando nenhuma solução do mundo real é possível.


Em oposição à fada está a bruxa, que retrata a mulher má. É o símbolo da maldade humana. Fada e bruxa são personagens-símbolos, que representam o antagonismo do bem e do mal que, durante toda a narrativa, vão tecendo os destinos dos personagens até a vitória do bem, desfecho importante, que pode alimentar esperanças na felicidade, na justiça.


A bruxa também é, muitas vezes, lembrada pela figura da madrasta, como uma pessoa maldosa que ocupa o lugar da mãe. Na França de Darnton, o cenário é mostrado com base nos fatos reais. Muitas mulheres morriam, precocemente, na hora do parto e os homens viúvos precisavam de companheiras que criassem seus filhos, pois, naquela época, não era tarefa designada para o sexo masculino.


A essência dos contos de fadas expressa os obstáculos ou as provas que precisam ser superados, para que o herói atinja a sua auto-realização existencial, seja pelo encontro do seu “eu”, da princesa que, por sua vez, encarna o ideal almejado. As histórias não tratam de personagens, mas de figuras arquetípicas.


O conteúdo dos contos de fadas enfatiza a questão existencial. Apresentado de forma simples, com texto curto, mostra os personagens de uma maneira estereotipada e exagerada: feios ou belos, maus ou bons, valentes ou covardes e assim por diante. São representados por personagens como rainhas e reis, bruxas e fadas, gigantes e anões. 


Numa linguagem simbólica, os reis e as rainhas podem significar tradição, dignidade, poder, sabedoria; as fadas e os magos, o poder mágico; as bruxas e as feiticeiras, a maldade; as crianças, a inocência e a fragilidade.


A trama dos contos de fadas se desenrola em um ambiente mágico, semelhante a um sonho. São atemporais e não apresentam, também, espaço geográfico determinado. Acontece em qualquer lugar e em qualquer época.


Os contos de fadas, sob a perspectiva de narrativa destinada especialmente à criança, surgem na Europa durante a Idade Moderna, tendo como fontes as histórias registradas na memória dos povos, transmitidas através do tempo pela oralidade.


Na verdade, “o Conto só adotou verdadeiramente o sentido de forma literária determinada no momento em que os irmãos Grimm deram a uma coletânea de narrativas o nome de Kinder-und-Hausmärchen (Contos para Crianças e Famílias). Assim fazendo, contentaram-se em aplicar às narrativas por eles compiladas uma palavra que já vinha sendo usada há muito tempo”, argumenta André Jolles.


Já os Irmãos Grimm afirmam ser Charles Perrault quem fez a primeira coletânea de contos, ainda no século XVII, resgatando a essência do povo através de suas histórias. É ainda Jolles quem insiste sobre o entendimento do termo conto ligado ao resgate das narrativas folclóricas “sublinhemos e conservemos na memória que Jacob Grimm percebeu no Conto um ‘fundo’ que pode manter-se perfeitamente idêntico a si mesmo, até quando é narrado por outras palavras”. Esse “fundo” a que Jolles se refere é a essência que se conserva como formas simples, tomando novos rumos e transformando-se em formas artísticas, produzidas com autoria conhecida.


A maioria dos contos traduz certas similaridades com os ritos iniciáticos dos povos primitivos, em que o homem, para alcançar um outro estágio de vida, submete-se a muitos desafios que possam comprovar o seu amadurecimento pessoal.


Uma prova de que as histórias de fadas surgiram da cultura popular está presente nos personagens principais, que sempre se encontram em um estado de inferioridade no grupo em que vivem e, somente com a presença dos elementos mágicos, conseguem superar as adversidades. Os contos de fadas têm como tema os problemas existenciais ou, segundo André Jolles, “tragédias humanas” e pertenciam à cultura popular como todas as outras formas narrativas orais.


Apesar do final feliz das histórias, fica sempre a sensação de conformismo e de uma certa incapacidade de alterar a sua vida, o seu destino, uma vez que a solução sempre vem através da fantasia, dos elementos mágicos e não do esforço pessoal. Ainda assim, os contos, principalmente os de fadas, representam um contato compreensível com a sociedade. Eles não levam ao questionamento do final feliz. 


Os contos de fadas trazem à tona questões existenciais de provação, de desafio, de sensação de medo, de demonstração da capacidade de lutar e de vencer e isso não tira a credibilidade das possibilidades existenciais humanas como retrato da vida.


Por serem manifestações folclóricas as histórias de tradição oral foram contadas em inúmeras versões, acrescentando-lhes detalhes pelos narradores, dando ênfase aos significados mais importantes. Dentro da caracterização das formas literárias, os contos de fadas são confundidos com os contos maravilhosos. Ambos são contos de encantamento. Todo conto de fadas é um conto maravilhoso, mas este nem sempre é um conto de fadas.

Mito




O mito é a mais antiga das expressões humanas, o modo que o homem encontrou de relatar seus medos, imaginando deuses como força oculta de poder para combatê-los e afastá-los de seus dias. Segundo Nelly Novaes Coelho, “é costume dizer-se que quando o homem sabe, ele cria a história e quando ignora, cria o mito”. Definindo-o como uma forma simples, André Jolles diz que “quando o universo se cria assim para o homem, por pergunta e resposta, tem lugar a Forma a que chamamos Mito” 


Explicar hoje, com o apoio das ciências, os fenômenos naturais parece simples, mas em um tempo em que pouco conhecimento o homem detinha de seu próprio mundo, era uma tarefa para Hércules. Com isso, o mito era o único recurso de que se dispunha para justificar os fatos vividos, mesclados com o seu poder de imaginação.


Através do mito é que o homem pode conhecer a sua própria história, no reconhecimento das questões culturais, religiosas, psicológicas, suas ligações com os seres divinos, os deuses. E por meio de símbolos, o mito proporciona a experiência da evolução humana, privilegiando seus valores, conflitos, mistérios, crenças, verdades eternizadas através dos tempos, presentes em todas as épocas e em todas as civilizações.


Os mitos referem-se a fenômenos inaugurais, como a criação do mundo e do homem, a origem dos deuses e a explicação mágica das forças da natureza. Sua origem explica-se, basicamente, no fato do homem querer compreender a sua existência, seu trabalho e seu destino, assim como a natureza do cosmo.


André Jolles lembra que a “criação do Mundo é vizinha do fim do Mundo”, levando o leitor a conhecer os pólos contrários, que se atraem pelos opostos na criação e na destruição, no início e no fim, fazendo os dois se encontrarem nas infindáveis dúvidas que alimentam a imaginação.


Mito e lenda se confundem dentro de seus conceitos, mas a diferença entre eles refere-se à sua natureza. Através de lendas, relatam-se histórias de acontecimentos heróicos ou do aparecimento de fenômenos, em tempo e espaço determinados. O mito tenta explicar a criação do mundo e do homem, vida e morte, com a existência de deuses, moldando a vida segundo o caráter religioso.


Através das narrativas repetidas inúmeras vezes, pelas vozes dos contadores de histórias, os mitos permanecem vivos na memória das pessoas. “Prometeu”, “Aquiles”, “Orfeu”, entre outros, fazem parte do seu conhecimento.


“Se o mito é uma resposta que contém uma questão prévia, a adivinha é uma pergunta que pede uma resposta”, afirma Jolles. O mito está relacionado à ideia de criação e, portanto, ligado aos deuses, invencíveis na luta contra os perigos, garantindo a certeza da vida. 


Ter conhecimento da própria essência e entender a vida é uma constante preocupação do homem, em suas primeiras compreensões da realidade e do mundo em que vive. Ao encontrar explicações para suas inquietações, o homem começa a contá-las às pessoas em forma de narrativas e, assim, preenche o caminho com histórias.





Memorável




Pode-se definir como modo de se entender um fato, a partir do que a memória do narrador reservou. Jolles busca nas entrelinhas novos dados apresentados conforme se fixaram na pessoa que o relata. Portanto, diz ele, “foi como se também tivéssemos recortado um elemento num quadro de conjunto; de fato, apoderamo-nos de um elemento que se destaca a si mesmo na História e em que um acontecimento histórico se cristalizou, imobilizou e adquiriu forma própria”.


Os memoráveis são histórias resgatadas das pessoas anônimas, desconhecidas da sociedade, que recriam fatos não percebidos por escritores que se incumbem de contar histórias, mas que muitas vezes não as viveram ou, se as conheceram, viram à sua maneira, a partir de sua bagagem cultural.


As histórias contadas com base na memória misturam-se com os fatos reais, recriando outros. Por vezes, o leitor não consegue distinguir o que de fato aconteceu com o que o entrevistado ou o narrador escreveu. Isso dá margem às histórias não oficiais, as orais, que se distanciam das oficiais, as impressas nos livros, consideradas verdadeiras, utilizadas às largas em currículos escolares.






Caso




É a forma simples que, mais tarde, deu origem à novela. Como uma maneira de estabelecer uma pergunta, o caso tenta fornecer as pistas para uma resposta.


Segundo André Jolles, “no Mito, o universo dá-se a conhecer em seus fenômenos por pergunta e resposta, e torna-se a criação a partir da sua natureza. Na Adivinha, a pergunta e a resposta verificam e proclamam a pertença a uma iniciação. No Caso, a forma resulta de um padrão usado para avaliar ações, mas a questão contida em sua realização influi sobre essa norma”.


O caso indica a ação humana, susceptível de avaliação e de ponderação por parte de quem julga, cumprindo a sua função de relatar os acontecimentos, imputando-lhes as conseqüências às causas provocadas.


Um caso para pensar:




Vetãlapañcavimsãtika[1]


Somadeva[2]


Um brâmane tem uma bela filha. Mal saíra ela da infância, apresentam-se três pretendentes à sua mão, todos iguais em nascimento e perfeição. Cada um deles preferia morrer a vê-la casada com qualquer dos rivais. Quanto a seu pai, teme ofender os outros dois pretendentes se a der a um deles; e a filha permanece solteira por algum tempo. 


De súbito, a donzela cai doente e morre. É incinerada e o primeiro pretendente constrói sobre suas cinzas uma cabana onde passa a morar. O segundo reúne-lhe os ossos e leva-os ao Ganges, o rio Sagrado. O terceiro parte em peregrinação pelo mundo todo.


Certa tarde, chega à casa de um brâmane. À mesa está uma criança mal comportada que chora. A mãe enfurece-se e joga a criança ao fogo, onde ela arde sob os olhares apavorados do peregrino. O pai tranqüiliza-o, vai buscar um livro de magia, declama uma fórmula de encantamento e a criança regressa à mesa como antes.


O terceiro pretendente rouba o livro durante a noite, volta ao seu país e ressuscita a donzela. Tendo passado pelo fogo, ela está ainda mais bela e pura.


Os três rivais voltam a disputá-la mas, entre esta disputa e a anterior, quando todos os três eram iguais, ocorreu uma transformação, uma ação: cada um deles realizou, segundo determinada norma, o que acreditava dever fazer como amante e como brâmane. Tem-se que decidir, portanto, quem deva casar com a donzela. 


“E agora, rei, - diz o Vetãla – resolve este debate.” Que deve fazer o rei? Pesa todos os atos, interpreta-os. 


Aquele que devolveu a jovem à vida é seu pai; aquele que lhe levou os ossos até ao Ganges fez o que a tradição indiana manda que os filhos façam aos pais, portanto, é seu filho; enfim, aquele que permaneceu junto dela, que repousou a seu lado, que fielmente a serviu e manteve sua casa junto dela, esse é o seu esposo. 


O rei falou, o cadáver retorna à árvore, tudo pode recomeçar – um novo Caso.


























[1] De origem indiana. Faz parte do Kathãsaritsãgara, que significa oceano torrencial das narrativas. Trata-se de um exemplo de Caso, publicado em Formas simples, de André Jolles, p. 158-159.


[2] Na segunda metade do século XI, reuniu grande número de relatos, com um novo arranjo e intitulou Kathãsaritsãgara.

Legenda




André Jolles define legenda como as histórias de pessoas notáveis, que se imaterializaram, tornaram-se santos, estudadas como “literatura de edificação pessoal” e que, através de trajetórias de vida exemplares, continuam a fazer parte das narrativas contadas por gerações a fio, sem perder a sua expressividade, inclusive reconstruindo o indivíduo “com traços que nos incitam a entrar nele, essa biografia torna-se legenda”.


Afirma André Jolles que “num círculo restrito e estreitamente localizado, vive um homem cuja conduta peculiar atrai as atenções dos que o cercam. Seu modo de vida, sua maneira de ser, distinguem-nos dos outros homens; ele é mais virtuoso que os outros homens e, sobretudo, sua virtude difere ainda mais na qualidade do que na quantidade”. 


O sentido de legendário empregado aos heróis que o mundo notabilizou são aqueles que a história oficial, conhecida nos livros, não atestou, portanto por vezes soando como não verdadeira. 






Formas simples das histórias



André Jolles enxerga outras categorias literárias, advindas das histórias de tradição oral, a partir de formas simples, que se desenvolvem no campo da oralidade e traduzem a expressão do povo. Ele as classifica como legendas, sagas, mitos, contos, chistes, anedotas, lendas, casos, memoráveis, adivinhas, cada qual com a sua significação e representação no que tange ao sentimento que permeia a vida do homem.


No livro Formas simples, escrito em 1930, Jolles diz que há ainda uma multiplicidade de formas narrativas que vêm, desde a origem dos tempos, e que (na ausência de uma classificação teórica não-polêmica ou definitiva) consideramos também como pertencentes à grande área do gênero ficção, e às quais definimos como formas simples. 


São consideradas formas simples, determinadas narrativas que, há milênios, surgiram anonimamente e passaram a circular entre os povos da Antiguidade, transformando-se com o tempo no que hoje conhecemos como tradição popular. De terra em terra, de região a região, foram sendo levadas por contadores de histórias, peregrinos, viajantes, povos emigrantes, etc., até que acabaram por ser absorvidas por diferentes povos e, atualmente, representam fator comum entre diferentes tradições folclóricas, segundo definição da pesquisadora Nelly Novaes Coelho, 2000). 


As formas simples são estudadas como: legenda, saga, adivinha, ditado ou provérbio, caso, memorável, chiste, mito, conto (de fadas e maravilhosos). Lenda e fábula não entram na classificação de Jolles, mas são importantes para entender a forma de pensamento dos homens através dos tempos.



O papel das histórias



A arte de contar histórias nasceu com a necessidade do homem em estabelecer comunicação. Comungar suas aventuras, seus medos, sabe-se lá. Herdamos essa habilidade de elaborar narrativas sobre tudo o que nos cerca. Também contamos memórias, sonhos e nos projetamos na figura dos protagonistas, heróis e heroínas.


As histórias têm uma tradição na oralidade, que depois escritas ainda são recontadas e modificadas. As histórias que contamos também são assim: falamos com a estrutura narrativa de começo, meio e fim. No contexto da literatura infantil, nas cinco etapas: desígnio, viagem, obstáculo, ajuda e final feliz. E, muitas vezes, registramos nossas trajetórias.


A vida é para ser contada. Uma vida inspira a outra e assim aprendemos a viver melhor,

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Uma história que retrata muitas histórias

Fátima, a fiandeira


Numa cidade do mais longínquo Ocidente vivia uma moça chamada Fátima, filha de um próspero fiandeiro. Um dia seu pai lhe disse:
- Filha, faremos uma viagem, pois tenho negócios a resolver nas ilhas do Mediterrâneo. Talvez você encontre por lá um jovem atraente, de boa posição, com quem possa então se casar.
Iniciaram assim sua viagem, indo de ilha em ilha; o pai cuidando de seus negócios, Fátima sonhando com o homem que poderia vir a ser seu marido. Mas um dia, quando se dirigiam a Creta, armou-se uma tempestade e o barco naufragou. Fátima, semi-inconsciente, foi arrastada pelas ondas até uma praia perto de Alexandria. Seu pai estava morto, e ela estava agora inteiramente desamparada. Podia recordar-se apenas vagamente de sua vida até aquele momento, pois a experiência do naufrágio e o fato de ter ficado exposta às inclemências do mar a tinham deixado completamente exausta e aturdida.
Enquanto vagava pela praia, uma família de tecelões a encontrou. Embora fossem pobres, levaram-na para a sua humilde casa e ensinaram-lhe seu ofício. Deste modo, Fátima iniciou nova vida e, em um ou dois anos voltou a ser feliz, reconciliada com a sua sorte. Porém um dia, quando estava na praia, um bando de mercadores de escravos desembarcou e levou-a, junto com outros cativos. Apesar dela se lamentar amargamente do seu destino, eles não demonstraram nenhuma compaixão: levaram-na para Istambul e venderam-na como escrava.
Pela segunda vez, o mundo da jovem ruíra. Mas quis a sorte que no mercado houvesse poucos compradores na ocasião. Um deles era um homem que procurava escravos para trabalhar em sua serraria, onde se fabricava mastros para embarcações. Ao perceber o ar desolado e o abatimento de Fátima, decidiu comprá-la, pensando que poderia proporcionar-lhe uma vida um pouco melhor do que teria nas mãos de outro comprador.
Ele levou Fátima para sua casa com a intenção de fazer dela uma criada para sua esposa. Mas ao chegar em casa soube que tinha perdido todo o seu dinheiro quando um carregamento fora capturado por piratas. Não poderia enfrentar as despesas que lhe davam os empregados, e assim ele, Fátima e sua mulher arcaram sozinhos com a pesada tarefa de fabricar mastros. Fátima, grata ao seu patrão por tê-la resgatado, trabalhou tanto e tão bem que ele lhe deu a liberdade, e ela passou a ser sua ajudante de confiança.
Assim ela chegou a ser relativamente feliz em sua terceira profissão. Um dia ele lhe disse:
- Fátima, quero que vá a Java, como minha representante, com um carregamento de mastros; procure vendê-los com lucro.
Ela partiu então. Mas quando o barco estava na altura da costa chinesa, um tufão o fez naufragar. Mais uma vez Fátima se viu jogada como náufraga em uma praia de um país desconhecido. De novo chorou amargamente, porque sentia que nada em sua vida acontecia como esperava. Sempre que tudo parecia andar bem, alguma coisa acontecia e destruía suas esperanças.
- Por que será - perguntou pela terceira vez - que sempre que tento fazer alguma coisa, não dá certo? Por que devo passar por tantas desgraças?
Como não obteve respostas, levantou-se da areia e afastou-se da praia. Acontece que na China ninguém tinha ouvido falar de Fátima ou de seus problemas. Mas existia a lenda de que um dia chegaria certa mulher estrangeira capaz de fazer uma tenda para o imperador.
Como naquela época não existia ninguém na China que soubesse fazer tendas, todo mundo aguardava com ansiedade o cumprimento da profecia. Para ter certeza de que a estrangeira ao chegar não passaria despercebida, uma vez por ano os sucessivos imperadores da China costumavam mandar seus mensageiros a todas as cidades e aldeias do país, pedindo que toda mulher estrangeira fosse logo levada à côrte.
Exatamente numa dessas ocasiões, esgotada, Fátima chegou a uma cidade costeira da China. Os habitantes do lugar falaram com ela através de um intérprete e explicaram-lhe que devia ir à presença do imperador.
- Senhora - disse o imperador quando Fátima foi levada até ele - sabe fabricar uma tenda?
- Acho que sim, Majestade - respondeu a jovem.
Pediu cordas, mas não tinham. Lembrando-se dos seus tempos de fiandeira, Fátima colheu linho e fez as cordas. Depois pediu um tecido resistente, mas os chineses não o tinham do tipo que ela precisava. Então, utilizando sua experiência com os tecelões de Alexandria, fabricou um tecido forte, próprio para tendas. Percebeu que precisava de estacas para a tenda, mas não existiam no país.
Lembrando-se do que lhe ensinara o fabricante de mastros em Istambul, Fátima fabricou umas estacas firmes. Quando estas estavam prontas, ela puxou de novo pela memória, procurando lembrar-se de todas as tendas que tinha visto em suas viagens. E a tenda real foi construída.
Quando a maravilha foi mostrada ao imperador da China, ele se prontificou a satisfazer qualquer desejo que Fátima expressasse. Ela escolheu morar na China, onde se casou com um belo príncipe e, rodeada por seus filhos, viveu muito feliz até o fim de seus dias.
Através dessas aventuras Fátima compreendeu que o que em cada ocasião lhe tinha parecido ser uma experiência desagradável acabou sendo parte essencial para sua felicidade.