terça-feira, 22 de setembro de 2015

Leia mais

Para saber mais sobre histórias de tradição oral, formas simples, literatura infantil e as narrativas em diversos ambientes:

http://www.bocc.ubi.pt/pag/marcolla-rosangela-historias-tradicao-oral.pdf

http://www.bocc.ubi.pt/pag/marcolla-rosangela-monteiro-lobato-contador-de-historias.pdf

https://books.google.com.br/books?id=-U0hkwczKWkC&pg=PA137&lpg=PA137&dq=rosangela+mar%C3%A7olla&source=bl&ots=BgwcMLb1IK&sig=bZv3nIpTluJrRApRl5HGIZrYnok&hl=pt-BR&sa=X&ved=0CEMQ6AEwBzgKahUKEwi4s73a5YvIAhXCFJAKHTuVBOU#v=onepage&q=rosangela%20mar%C3%A7olla&f=false

https://oatd.org/oatd/record?record=oai%5C%3Aibict.metodista.br%5C%3A186

http://www.univerciencia.org/index.php/browse/b/58

http://www.univerciencia.org/index.php/browse/b/58







sábado, 19 de setembro de 2015

Histórias na escola

As formas simples definem as estruturas mentais que possibilitam elaborar narrativas de ordem pessoal. O entendimento da essência de cada estrutura molda os textos e explica a necessidade de contar experiências, fatos engraçados que marcam as vidas, as aventuras e desventuras, os medos, entre outros sentimentos.















http://www.brasilescola.com/upload/e/Caixa%20de%20Pandora%20-%20BRASIL%20ESCOLA.jpg

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Formas simples e histórias de tradição oral



As formas simples estudadas por André Jolles, como referência entre os homens, na questão do conhecimento e da comunicação, fazem parte de um resgate das raízes dos povos, que guardam como pedra bruta o que tem de valioso em sua capacidade de expressão. E, por falar em pedra, essa foi a primeira da casa que o autor se propôs a construir no terreno da literatura, mudando seu significado.

Esse modo de expressão é o que faz separar as formas simples das formas cultas da narratividade. Por formas simples pode-se entender as criações coletivas de autoria desconhecida nascidas da natureza humana, assim como a poesia natural definida por Jacob Grimm, “que brota incessantemente de um impulso natural e é captado por uma faculdade inata”.

As formas simples, compreendidas como manifestações naturais do homem, dependem das disposições mentais sustentadas pela linguagem. Já as formas cultas são resultados de criações artísticas individuais, como o romance, a novela, com personagens, ambiente, espaço e tempo determinados por um autor identificado, responsável pela obra.


As formas cultas diferem das simples, por uma questão de origem, as primeiras são artificiais, criadas, ao passo que as segundas guardam para si a naturalidade. Sendo assim, as formas cultas podem ser derivadas das simples, quando um autor escreve uma obra literária com essência nas histórias de tradição oral, apenas revestindo-as com outros adornos.


Essa mudança do estado torna as obras literárias, por serem autorais, em forma culta, anulando ou neutralizando a presença da forma simples, dentro das suas definições. Lenda, conto, saga, tudo se resume em uma coisa só. As pessoas não distinguem as formas, apenas a estrutura da história, com começo, meio e fim.


André Jolles lança-se para entender as questões do mundo, buscando significados humanos e suas relações com as histórias de tradição oral.

Ditado ou provérbio




Conhecido também por provérbio, o ditado faz parte da vida do homem, com o objetivo de ensinamento, através de aviso, recomendação, prevenção, do tipo “quem avisa, amigo é”, ou em forma de frases que só podem ser compreendidas dentro de um grupo, ou de ambientes de trabalho e estudo. Com seus significados, essa forma simples transcende época e local e vagueia pelo mundo. Nasce de um autor individual, pois toda criação tem um criador e se espalha pelo universo, com retoques e remendos que as pessoas vão atribuindo para as locuções proverbiais.


Fato interessante com essa forma, na opinião de Jolles, é “que o provérbio só se torna locução proverbial depois de ter recebido, do povo, essa forma dotada de universalidade e assim por diante” . Tem que ter significado contundente para ser repetido e, uma vez que isso aconteça, torna-se uma corrente invisível e os mesmos ditados são repetidos há séculos e séculos, mesmo não tendo o ferreiro, aquele do conhecido provérbio “casa de ferreiro, espeto de pau”, como profissional em alta no mercado de trabalho atual.

Saga




A história de família é determinante para que a pessoa tenha a sua própria história, pois recebe heranças não só concretas como abstratas e as transmite para a geração seguinte, com os mesmos princípios, conceitos e sentidos culturais. Isso para não falar das questões econômicas, de riqueza ou pobreza, que recebe como prêmio logo ao respirar o ar do mundo externo.

Afirma Jolles que “tal universo mantém idêntico a si mesmo no tumulto de suas variações – universo da glória ancestral e da maldição paterna, do patrimônio e das rixas entre famílias, das mulheres raptadas e do adultério, do sangue derramado na vingança e misturado no incesto, da fidelidade e do ódio familiares, universo do pai e do filho, do irmão e da irmã, universo da hereditariedade”. 

Com isso, o autor remete o leitor à ideia de destino, pois “nesse universo, o Bem e o Mal, a coragem e a covardia, não são qualidades pessoais, a propriedade já não é posse do indivíduo: a fonte de todo o significado e de todo o valor é a família e o destino do homem recai sempre no clã ”. 

O homem é visto como herdeiro de ações de seus antepassados, cujas histórias são narradas com o nome de saga, dando continuidade ao que recebe de sua família, responsabilizando-se pelos feitos passados. Os personagens da saga que se sobressaem são justamente aqueles que lutam para desfazer o “nó” do destino, alterando o rumo das pessoas da família de gerações futuras. 

A tradicionalidade da saga pode, segundo Jolles, “continuar existindo, em literatura, nas narrativas campesinas”, pois as pessoas que vivem no campo ainda conservam por um tempo maior seus costumes, através das histórias de famílias, e ainda segundo o autor, “a cristalização poética é menor, a linguagem não pode intervir com a mesma força, o colorido é pálido e falta a grandeza do gesto”. 

A essência da saga continua perene como fonte de histórias de vidas pessoais, autobiografias, relatos onde se podem encontrar dados não vividos pelo autor do texto, mas contados por membros da família, de gerações anteriores, fazendo com que muitos sentimentos permeiem a vida dos descendentes de uma família, sem que se tenham sido experimentados.













Chiste




Contar histórias sobre as características de cada povo especificamente, com certo ar de graça, de deboche é, sem dúvida, uma forma rudimentar de pensamento que permanece até os dias de hoje, pois segundo Jolles, “não existe época nem lugar, provavelmente, onde o chiste (Witz) não se encontre na existência e na consciência, na vida e na literatura”. 

O fato de se relatar um fato engraçado, mostrando as diferenças dos povos, de acordo com suas culturas próprias leva o receptor a se divertir com a situação, principalmente quando se fala em palavras de duplo sentido, incompreensíveis por dialetos distintos. 

A força do opressor sobre o oprimido também resulta numa disparidade que causa ironias, risos, justamente por desafiar o mais forte e encontrar defeitos que o desprestigiam, apesar de mostrar posição de superioridade. “O que nos interessa aqui, porém, não é a diferença, mas a disposição mental em sua totalidade. Começaremos assim por dizer que o Chiste, onde quer que se encontre, é a forma que desata coisas, que desfaz nós”, afirma Jolles, definindo essa forma, que acabou por dar origem à sátira e à ironia.

A sátira“é uma zombaria dirigida ao objeto que se repreende ou se reprova e que nos é estranho (...) e a ironia troça do que repreende, mas sem opor-se-lhe, manifestando antes simpatia, compreensão e espírito de participação...

Na sátira, mantemos distância do objeto, ridicularizamos aquilo que não temos em comum com a pessoa satirizada, enquanto que a ironia é conhecida por quem a elabora, amenizando e solidarizando-se com o objeto ironizado. Nas palavras de Jolles, “a sátira destrói, a ironia ensina”.

Fábula


           

A fábula também não está no rol das formas simples, pois está mais para criação individual, porque traz as falas dos animais, como se fossem humanos, não correspondendo à realidade. É considerada história de tradição oral pelos mesmos motivos da lenda, por não ter autor, pela sua transmissão oral e contínua através dos tempos, alterando o comportamento da vida das pessoas em sociedade.


A palavra fábula, em sua etimologia, tem origem latina, fabulare, ou seja, falar, e significa conversa, narração (Sueli Passerini). Diante dessa concepção, parece ter origem muito remota, que coincide com o surgimento da linguagem, evoluindo com a função histórica da palavra. Seu processo de criação e recriação foi espontâneo e serviu como forma de comunicação entre as pessoas.


A estrutura da fábula, curta e direta, assemelha-se ao provérbio, sem sua parte narrativa e à anedota, como narrativa sem moral da história. Trata-se, portanto, de narrativa de natureza simbólica de uma situação vivida por animais, representando uma situação humana, com o objetivo de transmitir determinada conduta ou moralidade.


Os animais assumem uma situação humana com finalidades exemplares, pois representam símbolos. O leão representa a força; a raposa, a astúcia; o lobo, o despotismo; o cordeiro, a ingenuidade; a formiga, o trabalho, etc.


Bárbara Vasconcelos de Carvalho afirma que “a origem da fábula se perde no tempo, tornando difícil fixá-la. Atribui-se que a fábula tenha sido documentada desde Buda, e consta que muitas fábulas atribuídas a Esopo já haviam sido divulgadas no Egito, quase 1.000 anos antes de sua época”.


Trazida do Oriente para a Grécia Antiga, foi reinventada pelo grego Esopo, considerado o pai da fábula. Viveu, provavelmente, entre os séculos VII e VI a.C. Era, supostamente, um escravo, que depois de ter sido libertado, viajou para o Oriente, adaptando todas as histórias, com claro objetivo moral, para a sabedoria grega, dando à fábula um gênero peculiar. Contava suas fábulas, adaptando o comportamento dos animais às suas observações. Depois de liberto, viajou para a Ilha de Delfos e, em virtude do conteúdo de suas histórias, os habitantes da ilha, enraivecidos, atiraram-no do alto de um rochedo, levando-o à morte.


Tempos depois, a fábula foi aperfeiçoada pelo escravo Fedro, como poesia, definindo sua forma literária. Nessa época, torna-se ingênua e satírica. Esse gênero, pelas mãos de Fedro, incorporou-se à literatura latina.


A forma definitiva da fábula dentro das espécies literárias foi dada por Jean de La Fontaine (século XVII, 1621-1692), denominado o mestre dos fabulistas modernos. Nasceu em Château Tierry, França. É considerado o maior escritor do gênero, pois difundiu-as através de seus livros feitos para adultos, mas desviados para a leitura das crianças, por conter princípios de moralidade. Seus textos trazem, em uma linguagem metafórica, as misérias, as injustiças de sua época.


A fábula apresenta texto curto e simples. Faz parte da narrativa o princípio moral, o ensinamento, através do humor que acaba por divertir e entreter o ouvinte; apresenta um estilo simples e uma linguagem direta, com diálogos em prosa ou em verso, cujo objetivo é a expressão crítica de conduta do homem. Pode ser dividida em duas partes, segundo La Fontaine, “o corpo é a fábula; a alma, a moral”. É uma das formas simbólicas surgidas espontaneamente, decorrente do desenvolvimento histórico da idéia de arte, com o intuito de elevar a condição de vida humana.